Meu interesse pela Croácia, muito antes
de se tornar um destino razoavelmente descolado, havia nascido em razão da
história e da geopolítica. Sempre me foi difícil compreender porque povos tão
próximos (sérvios, croatas, bósnios), com idiomas quase idênticos, empreenderam
guerras de independência tão sangrentas nos anos 90. Afora esta questão, sempre
me interessei pelo tema da cortina de ferro, dos arcaicos ditadores comunistas,
da estética soviética, de nomes tão sonoros quanto Iugoslávia e
Tchecoslováquia, das línguas eslavas, húngara, romena, do Muro de Berlim, de
Jaruzelski, Tito, Brezhnev, Milan Kundera, Ceausescu, Stasi, Boniek, Emil
Zatopek, Nadia Comaneci, a lista de nomes é imensa. Eu já havia pisado na
República Tcheca, na Eslováquia, na Hungria, na Estônia, Letônia e Lituânia.
Era hora de conhecer os Bálcãs. Era hora da nostálgica Iugoslávia.
Bienvenidos |
Pois bem. A finada Iugoslávia foi
inicialmente uma monarquia que durou de 1918 até 1941, ou seja, do final da
Primeira Guerra Mundial até a invasão de Hitler na Segunda Guerra. Com a
valente resistência dos chamados partisans, guerrilheiros comandados por Josip
Broz Tito, e com algum auxílio do exército soviético, os alemães foram expulsos
e, em 1945, foi fundada uma nação de viés socialista que abarcou seis
repúblicas: Croácia, Sérvia, Bósnia e Herzegovina, Macedônia, Eslovênia e
Montenegro. A morte do Marechal Tito, o supremo líder, em 1980, trouxe à tona
as rivalidades regionais e, a partir de 1991, as seis repúblicas foram ano após
ano se tornando países independentes. E cada vez mais diferentes.
Eis o que vos espera |
Foi assim que nós, jovem e aventureiro
casal, saímos de Veneza, passando por Trieste e, no começo da tarde, já
estávamos em Koper, solo esloveno, para buscar o carro alugado de antemão. O
mês era agosto, o ano 2014, e o sol, quente o bastante para os padrões
tupiniquins. Koper, ou Capodistria em italiano, é uma idílica cidadezinha
litorânea com grande influência latina em razão de sua proximidade com a
fronteira italiana. Optamos por alugar o automóvel em Koper e deixá-lo em
Ljubljana, ou Lubiana, a romântica capital eslovena. Caímos na estrada em
direção à metrópole.
Com lua |
Já próximos à cidade, numa rodovia
excelente, avistamos os Alpes Julianos, com os picos cobertos de neve, já que o
dia ensolarado ajudou. Imagino que o inverno deve ser belíssimo na região. Nossa
escolha hoteleira em Lubiana foi o M Hotel, o qual recomendo altamente (opte,
como eu, pelo Booking.com. Sou um satisfeitíssimo usuário).
Ljubljana em becos |
A organização, a limpeza e a gentileza
encontrada na Eslovênia foram fatos que nos chamaram a atenção desde o início
da visita. O inglês é amplamente utilizado, e o euro é a moeda corrente. Já na
primeira noite nos dirigimos à região do rio Ljubljanic onde abundam
restaurantes, bares, cafés, wine bars (o país tem uma produção interessante da
birita), mas deveríamos dormir mais cedo porque o dia seguinte seria dedicado a
um dos mais esperados destinos da viagem: Bled.
Agora ficou sério |
Trata-se de uma bucólica cidade a 50 km
da capital, já no começo da cordilheira de montanhas, conhecida pelo belíssimo
lago, pelo castelo e por outras pequenas atrações relacionadas à natureza no
local. Chegamos no meio da manhã e enfrentamos um trânsito pesado até
encontrarmos um estacionamento. Todo mundo quer sair de casa no verão.
Problemas de logística resolvidos, e brindados com uma chuva fina, chegamos
caminhando, por um atalho relativamente fácil mas íngreme, ao Castelo de Bled.
Ali pudemos fazer uma visita ao excelente museu e tivemos uma vista magnífica
da região, permeada de montanhas, florestas e um lago de cor turquesa, alpina.
Magnífico |
Almoçamos à beira do lago, pedimos uma
ótima cerveja eslovena Lasko e ouvimos a trilha sonora do local, um som
indie-pop como MGMT e Killers. Em seguida, chuva pausada, alugamos um barco a
remos e nos aventuramos no espetacular lago, disputando espaço com outros
barcos maiores e menores. Chegamos à conhecida ilha que dá lugar à Igreja de
Nossa Senhora de Assunção, datada do século XVI, emoldurada por uma
impressionante escadaria de 99 degraus, com boa estrutura de visitação. Após
matarmos um pouco de tempo por ali, voltamos aos remos, entregamos o barco e
retornamos à capital para mais uma noite dedicada à simpática gastronomia
eslovena.
Tchau, Bled |
O dia seguinte seria dedicado a
conhecer a cidade sob a luz do sol, e tivemos tempo suficiente para caminhar
por toda a parte central da cidade e para visitar o castelo. A subida pode ser
feita por um funicular ou a pé. A visita vale pela vista que se tem da região e
não chega a ser impactante. Há um museu, um café, um restaurante e,
aparentemente, concertos noturnos, o que não nos foi possível testemunhar. No
fim da tarde, entregamos o carro e compramos um bilhete de trem para o próximo
destino iugoslavo: a Croácia, por sua capital Zagreb.
Dragões em Ljubljana |
O caminho do trem é, de fato, muito
bonito, e as montanhas estão sempre presentes, como não poderia deixar de ser
em países tão recortados. A chegada a Zagreb, à noite, foi sombria, mas segura,
e ali optamos pelo hotel Slisko. Novamente, altamente recomendável, embora um
pouco distante do centro, localizado numa região com prédios novos e lojas
sofisticadas. Nosso primeiro jantar na cidade ocorreu num restaurante quase em
frente ao hotel, com comida e ambiente típicos, e nos sentimos muito bem
servidos e acolhidos, mesmo porque o estabelecimento, ao saber que éramos
brasileiros, nos presenteou com algumas cervejas “na faixa”, croata style.
Achei sensacional, embora a cerveja croata seja decepcionante, ao estilo das insossas
ambevianas brasileiras.
O Teatro Nacional de Tito |
Infelizmente teríamos somente um dia
para conhecer a cidade de Zagreb. Em nosso plano, nossa prioridade seria o
litoral, mas é claro que o sentimento é de que Zagreb tem muito a oferecer ao
visitante. Foi ali, por exemplo, que tivemos a melhor refeição da viagem. Foi
no restaurante Sofra, no Green Gold Center, na Rua Radnicka Cesta 52. Vale a
menção completa porque a visita é compensadora, e o restaurante é especializado
em comida Bósnia. Pedimos moussaka e cevapici, em porções honestas e de
altíssima qualidade, num ambiente muito bem decorado na tradição do país
vizinho.
Zagreb em perspectiva |
A tarde foi dedicada à Praça Bana
Jelacica, verdadeiro coração de Zagreb, ao Teatro Nacional, localizado na Praça
Marechal Tito (lembranças da Iugoslávia) e à Catedral de Zagreb, uma
impressionante construção no estilo gótico, além de uma caminhada pelo centro
histórico. Paramos para uma (boa) cerveja (italiana) no pub Tolkien´s House,
outra surpresa escondida que só encontra quem anda por aí, meio sem destino.
Tomamos uma ale artesanal chamada San Servolo, de boa procedência e qualidade,
mas peguei leve porque em breve iríamos cair novamente na estrada em direção a
outro destino muito esperado: o Parque Nacional dos Lagos Plitvice. Alugamos
outro carro em Zagreb e seguimos à toda.
Zagreb e seu senso de humor |
São duas horas de estrada e o caminho
chama bastante a atenção por ainda ter muitas marcas da guerra travada após a
independência da Croácia, proclamada em 1991. Exatamente naquela região havia
uma minoria sérvia que, insatisfeita com a separação forçada do governo central
de Belgrado, proclamou a república de Krajina e lutou, com amplo apoio da
Sérvia, contra o exército croata. O caminho que seguimos registra casas,
igrejas e prédios com marcas de tiroteios e destruição, e a visão é impactante.
A vitória dos locais, em 1995, culminou com um êxodo forçado das minorias.
Alvejadas |
Optamos por pernoitar próximos ao
parque e fazermos a visita no dia seguinte. No Booking.com há inúmeras opções,
pois a região é muito popular e muito visitada. Recomendo o local em que
ficamos, a poucos quilômetros da entrada principal do parque. A pequena
localidade chama-se Smoljanac e a pousada é Apartments Orhideja. A cidadezinha
é campestre e, apesar de haver vários restaurantes na rodovia principal,
ficamos muito felizes ao contar com a refeição na própria pousada, acompanhados
de um bom vinho local e bastante conforto após um longo dia de viagem.
O Parque dos Lagos Plitvice é destino
obrigatório. Enfrentamos longa fila para entrar em razão do alto verão e de uma
infinidade de alemães, italianos, eslovacos e poloneses terem escolhido o mesmo
dia que nós para suas investidas, mas foi um passeio muito compensador. A
paisagem é única, combinando inúmeras quedas d´água e lagos de cor verde clara
com o recorte das montanhas. A entrada dá direito também a uma pequena viagem
de barco, no lago mais extenso, e ao retorno à sede por meio de shuttles, o que
possibilita uma longa caminhada sem preocupações com a volta. Há estrutura
limitada de alimentação, mas de boa qualidade, no interior do parque, sendo
recomendável levar o piquenique e a água na mochila. As fotos não sabem
retratar a beleza da natureza do local; portanto, a visita deve ser realizada
caso você passe pela região, e esta merece dois ou três dias.
Pular é proibido |
Mas nosso plano era apertado e, em
seguida, partimos em direção ao litoral para pernoite na cidade de Zadar, a
duas horas de viagem. Chegamos à Pension Marija, apenas razoável, com a
intenção de conhecer o famoso órgão do mar, mecanismo urbanístico que aproveita
as ondas para criar sons. A chuva não foi muito generosa e atrapalhou um pouco nossa
visita à cidade, também conhecida por um centro medieval muito bonito, o que
pudemos atestar, mas sem o charme de destinos um pouco mais à frente em nosso
mapa de viagem. Assim, sem muito a lamentar, partimos na manhã seguinte para
uma incrível aventura na belíssima rodovia, a D8, que serpenteia pela montanhas
e pelo mar desta que é uma das mais marcantes regiões do planeta: a Dalmácia.
Que venha a Dalmácia |
Nosso dia seria dedicado a dirigir sem
pressa pela rodovia, parando de acordo com o desejo, até nosso destino final na
cidade de Baska Voda. Assim, seguimos primeiramente até a pequena cidadela de
Sibenik, com uma bela praia, uma marina movimentada e um centro histórico
pequeno e acolhedor; depois, fomos almoçar em Trogir, localidade com 2.300 anos
de ocupação urbana contínua e cujo centro é reconhecido como patrimônio da
humanidade pela UNESCO; em seguida, conhecemos Split e o Palácio Diocleciano.
Trogir e o porto e o céu |
Trata-se de um complexo histórico, mais
semelhante a uma fortaleza, construído pelo imperador romano Dioclécio em 305
A.C. Sim, a história impressiona. Hoje, contudo, a impressão que se tem é de
algum descaso com o local, pois há um certo caos no ar; não há um museu ou um
passeio organizado, mas, sim, amplos espaços abertos, sem indicação histórica,
entremeados por pequenas vendinhas e labirintos que podem levar a ruínas, a
lojas ou a nada. É necessário algum tempo para se compreender o local. O fato é
que achei interessante e maior do que esperava, com muita gente circulando, e
com o porto logo à frente. Split é uma cidade grande e merece alguns dias de
expedição.
Dioclécio viveu aqui |
A estrada até nosso destino final é
deslumbrante e chega a ser difícil dirigir porque o olhar é atraído o tempo
todo pelas paisagens que se descortinam ao longo da rodovia. Chama a atenção a
cor do mar, muito limpa e transparente, as pequenas praias que se esparramam e
as montanhas de calcário que dão um tom muito claro e rústico ao panorama. São
várias as cidades que compõem a Riviera de Makarska: A própria Makarska, Brela,
Baska Voda e várias outras pequenas localidades, todas com pequenas praias
cheias no verão, água límpida e barcos, muitos barcos. Nossa chegada foi fácil
e optamos por ficar na região por dois dias, numa pousada de excelente nível
(Apartments Gavran) com uma sacada com vista para o mar e para as montanhas.
Cores inesgotáveis na Dalmácia |
De Baska Voda posso apontar praias
cheias, onde é possível alugar cadeiras de praia e guarda-sois. O melhor local
é próximo ao bar Southern Comfort, frequentado pela turma dos trinta. Bebidas à
mão. Não há música alta de qualidade duvidosa e nem farofada que suje a praia.
Leve seu livrinho, seu mp3 e mergulhe sem medo no mar sem ondas e de uma
transparência notável. À noite, por indicação de nossa pousada, fomos jantar no
Konoba Galinac, bem recomendado no Trip Advisor e por mim atestado. O próprio
restaurante se encarrega de buscar e levar o cliente, bastando fazer uma
reserva de antemão e combinar o horário para o pick-up. A localização é
belíssima, no alto das montanhas, e vale chegar para o pôr-do-sol. O ambiente é
rústico e a comida é típica, com preços um pouco acima do esperado. Mas o local
é sofisticado e foi muito bem aproveitado.
Vale alguns dinheiros |
Deixamos a localidade e o excelente
apartamento com algum pesar, mas nos esperava a mítica Ilha de Hvar. É
impossível falar sobre o verão na Croácia e deixar de citar a notável ilha. Não
sem razão. Pegamos novamente a estrada e, em menos de uma hora, estávamos na
localidade de Drvenik para nosso ferry, com preço acessível, para Sucuraj, já
na ilha. Vale ressaltar que a maioria dos veranistas utiliza o ferry desde
Split, sendo que a distância percorrida é maior, assim como o tempo dispensado
e o valor pago. Com nossa opção por Drvenik, conhecemos a Riviera de Makarska e
pagamos bem menos.
Exclusividade é tudo |
A chegada em Hvar originou uma nova
aventura, que é a estrada que corta a ilha. É uma estrada que, ao mesmo tempo
em que apresenta paisagens inesquecíveis, mal comporta dois carros por vez e
não conta com acostamento. Some-se a isto a ausência de proteção em alguns
despenhadeiros, ou a presença de caminhões pouco amistosos, e você mantém a sua
cota de adrenalina em dia.
Assim caminha a humanidade |
Nossa opção foi pela localidade de
Zavala, ao sul da Ilha, 30 km da cidade de Hvar e 15 da capital, Stari Grad. A
chegada à cidade é marcada por algo inusitado: um túnel, escavado nas rochas,
com a aparência de um túnel de mineração, que só comporta um carro por vez. Tem
mais de um quilômetro de extensão e conta com um semáforo: cinco minutos para
quem vai, cinco para quem vem. Pergunto o que acontece quando a energia acaba.
Tenso.
Não bebo porque é salgada |
E Zavala é algo muito único, particular.
Uma pequena cidadela de uns 300 habitantes, rodeada de pequenas praias
bucólicas, algumas pousadas, alguns restaurantes, muita tranqüilidade e um céu
absurdamente estrelado. Recomendo nossa pousada, Villa Zaca, o dinheiro mais
bem gasto da viagem. Isto porque consegui diárias mais em conta pelo
Booking.com e porque a comida a dona do local era muito boa e caseira. Ademais,
as instalações são impecáveis, amplas, e a sacada de nosso apartamento ficava
literalmente a dez metros do mar. A conseqüência de tanto encantamento foi um
pecado muito grave: decidimos não sair dali por dois dias e não conhecemos as
cidades maiores da ilha. Não observamos qualquer sinal de arrependimento...
A passagem meteórica pela Bósnia |
Nosso retorno ao continente deu-se pelo
mesmo ferry e teve como destino nossa última parada em terras croatas:
Dubrovnik, último destino croata, com direito a um rápido almoço na cidade de
Neum, no território da Bósnia-Herzegovina. A reputação de Dubrovnik, a pérola
do Adriático como cunhado pelo poeta Lorde Byron, deve-se, basicamente, ao
centro histórico cercado de muralhas, considerado como patrimônio da humanidade
pela UNESCO em 1979. A cidade foi fundada no século VII e conta, na região
murada, com diversas igrejas, mosteiros, portais e museus distribuídos num
labirinto de pequenas ruelas pavimentadas com mármore e calcário. Há, ainda,
multidões, bares, restaurantes e lojas. O passeio pelo alto das muralhas, de
onde se tem uma visão sublime do mar e das construções antigas, dura duas
horas, é de pouca dificuldade e é absolutamente obrigatório. Outras atrações da
cidade são a farmácia mais antiga da Europa, ainda em funcionamento, o
teleférico e as praias da região, muito visitadas. Infelizmente, Dubrovnik foi
fortemente atacada pelo exército iugoslavo em 1991 e um em cada três edifícios
foi atingido, tendo ocorrido na região 114 mortes, inúmeros feridos e um grande
êxodo populacional do qual a cidade ainda não se recuperou totalmente.
A Pérola |
Procure um hotel ou apartamento nas
redondezas da cidade velha. Dirigir em Dubrovnik é muito difícil, pois as ruas
são muito estreitas, mal sinalizadas e geralmente íngremes, com parcos
estacionamentos. Nosso apartamento, não tanto recomendável, era até próximo às
muralhas, numa caminhada de 15 minutos, mas era tão difícil de encontrar que engambelou
até o GPS. O passeio nas muralhas é imperdível. Dubrovnik é incrivelmente bela
e merece vários dias para que se compreenda toda sua complexidade.
Adiós, sol |
Ocorre que o relógio não sossegava, o
que significava que era hora de deixar a Croácia e seguir para a outrora vilã
dos Bálcãs: a Sérvia. A intenção inicial era viajar de barco de Dubrovnik até a
Itália, de onde sairia nosso avião de volta para o Brasil, mas a providência
jogou em nosso favor. Alguns dias antes da viagem, incomodado pelos preços
altíssimos cobrados pela companhia marítima, cerca de 160 euros por pessoa, fiz
uma ligeira pesquisa aérea e, de repente, encontrei o que eu mais poderia
desejar: um vôo de Dubrovnik a Roma com direito a parada na misteriosa
Belgrado, planando pela Air Serbia e pagando 100 euros. Fechei negócio com os
sérvios sem pestanejar. A longa jornada pelos Bálcãs teria seu grand finale na
cidade de pior reputação mundial nos anos 90. Imperdível.
A Fortaleza |
E Belgrado é hoje um destino mesmo
imperdível, com a seguinte ressalva: cuidado com os táxis em Belgrado. Sempre
que puder, agende a viagem de antemão, pela internet ou pelo hotel. Mesmo tendo
lido muito a respeito, não tive tempo de pesquisar o transfer do aeroporto até
o hotel e decidi negociar no guichê oficial do aeroporto. É claro que há opções
como ônibus, mas teríamos um tempo tão curto, e já estávamos tão cansados, em
fim de viagem, que o gasto extra pareceu fazer muito sentido. E mesmo
negociando no guichê do aeroporto, o taxista nos cobrou 30 euros. Como
paradigma, o retorno, do hotel ao aeroporto, honestamente negociado, nos custou
17 euros.
A junção dos rios |
E nosso hotel foi uma grande escolha.
Foi o Villa Forever, localizado no centro, próximo às ruas de pedestres, à Trg
Republike (Praça da República) e ao parque da fortaleza Kalemegdan. O complexo
reúne construções realizadas em Belgrado nos últimos 12 séculos, cidade esta
que já pertenceu aos turcos, aos Habsburgos e a mais uma pancada de povos
bastante nervosos. Nosso pôr-do-sol ali foi antológico, moldado pela visão da
junção dos rios Sava e Danúbio. Sim, o Danúbio, o mesmo que visita Viena,
Bratislava, Budapeste...
A noite em Belgrado |
Nosso jantar foi espetacular, no Little
Bay, restaurante que reúne pratos refinadíssimos com decoração inspirada no
século XIX e nos grandes compositores eruditos, algo bastante inusitado, mas de
bom gosto. Comemos como nobres, pagando um preço muito menor do que qualquer
capital no Brasil. Ressalte-se, também, que os nativos com que travamos
contato, talvez para apagar a impressão ruim que a guerra deixou, fazem questão
de serem extremamente simpáticos, e esta foi a imagem que ficou de Belgrado.
Eu, um iugoslavo |
Infelizmente, o tempo escasso permitiu
somente uma noite em Belgrado, e nosso avião partiria para a Itália cedo, no
dia seguinte. A antiga Iugoslávia, assim me parece agora, era um país de grande
complexidade, e consigo imaginar o trabalho que o Marechal Tito, um militar de pai
croata e mãe eslovena, vitorioso contra os nazistas, teve para manter estes
povos unidos desde o fim da Segunda Guerra até sua morte, em 1980. A separação
destes povos, anos depois, a partir da derrocada do universo comunista, foi
muito dolorosa e ainda mostra algumas marcas, mas é inegável que os cidadãos
destes países desejam esquecer o passado, seguir em frente e tentar conviver da
melhor forma possível com seus vizinhos. Turisticamente, posso assegurar que
são hoje países seguros, organizados, baratos e com ótima infra-estrutura,
sendo indicados para viajantes que preferem destinos alternativos,
razoavelmente exóticos e com muitas belezas naturais.